Este espaço, quilombo eletrônico é uma Arma.
Uma berro, aos berros para chamar a atenção de nossa inércia cotidiana.
Aqui , desfilaremos textos, sons e imagens que nos façam remexer o espírito.
Aqui não é palco de luta. Palco de luta são as ruas.
Mas aqui poderemos dar corda às nossas frustrações. Poderemos falar, cortar esse sufoco que nos arrebenta.
Na boa Dom?
Estamos tão controlados e controladas,
Que essa matança em massa ai fora não nos movimenta pra nada.
Abrem-se cadeias na Bahia e todo mundo em silencio fazendo o relatório do financiamento.
Morrem meninos e meninas num padrão vil de genocídio e a gente faz seminário fingindo que não é com a gente.
De boa.
Aqui é pra se falar na lata!
Aos berros!
O que se quer....

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Poema

Acordei com aquele peso nos olhos, uma mistura de chuva e hemorragia destilada. O gosto de aço na boca.
Na língua presa poucas palavras...palavras com barro, secas. Palavras do sertão sem chuva.
Nenhuma dor que não conheça, mas uma melancolia nova toda cravada em pregos palestinos desses que fizeram agonizar o profeta.
Tenho um prazer secreto aos domingos, destilo seriados tristes pela manhã e de uma janela observo a guerra, Lá fora a praga estoura ... a Rádio Sociedade da Bahia contou 23 mortos entre IAPI e Engenho Velho de Brotas. Tomei cerveja até 1.15 da manhã no mesmo bar em que tombaram aquele menino fino e elegante que passeava em suas roupas de marca.
Segunda feira sua mãe estará no IML recolhendo o corpo ...eu também, já me dispus e deixei o telefone... Meu ofício.
Poesia se tornou um adorno dessa dor que me traga.
Que Landê me perdoe... Landê é um mago com seus versos fartos de esperança... um mandingueiro.
As gavetas que abro agora carregam corpos, não canetas, corpos putrefatos e deformados eles revelam uma nódoa da cidade.
A guerra já etiquetou suas vítimas é todo mundo parecido comigo e, suas mães são as únicas a pronunciar algo para que se pare a matança.
Os sociólogos se repetem, os direitos humanos não se importam... sobram os poetas que já foram convocados pelo povo das Quartinhas do Aruá...
Amanhã estarei com meus parabéluns arrastando corpos pelas ruas.
Esse desespero que sinto, que contém a expressão de versos acumulados, versos para a dama que parte, para a musa que olha pelo vidro embaçado dos meus olhos meu corpo envelhecendo sem respostas.
Em cada passo que dou sobre o mundo vou construindo uma prosa de areia e vidro temperado sei que estou condenado e não me importo, suporto a sentença ou o que quer que seja, contanto que não me furtem a tinta, o papel e essa mania de levantar quando o tombo me relega à solidão.
Existe um deus da rua que sorri quando cruzo uma esquina, que me consola, me inspira e me ajuda a suportar... mas agora não sei como faço, é melhor me recolher tranqüilo sem uma palavra, sem desperdício, sem vício... calado


Hamilton Borges Walê
Poeta Maloqueiro
Antipalatável
Abril de 2008

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