Este espaço, quilombo eletrônico é uma Arma.
Uma berro, aos berros para chamar a atenção de nossa inércia cotidiana.
Aqui , desfilaremos textos, sons e imagens que nos façam remexer o espírito.
Aqui não é palco de luta. Palco de luta são as ruas.
Mas aqui poderemos dar corda às nossas frustrações. Poderemos falar, cortar esse sufoco que nos arrebenta.
Na boa Dom?
Estamos tão controlados e controladas,
Que essa matança em massa ai fora não nos movimenta pra nada.
Abrem-se cadeias na Bahia e todo mundo em silencio fazendo o relatório do financiamento.
Morrem meninos e meninas num padrão vil de genocídio e a gente faz seminário fingindo que não é com a gente.
De boa.
Aqui é pra se falar na lata!
Aos berros!
O que se quer....

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O 13 DE MAIO E A CAMPANHA REAJA UM SOCO NA REPUBLICA QUE NÃO CHEGA

Pela passagem dos cinco anos da Campanha Reaja na Bahia !!!

Tenho pensado em porque o 13 de maio ainda é amplamente comemorado em todo o país. Agora, por ocasião do aniversário da Campanha Reaja, farei um breve comentário de um assunto que merece ser tematizado. Vlamyra Albuquerque aborda isso em seu livro, “O Jogo da Dissimulação”.
O 13 de maio, tendo sido fruto de uma pressão de republicanos e uma sobrevida para os monarquistas, seria lembrado como a glória histórica dos dois sistemas. Não era uma festa para negros comemorarem, porque a comemoração é uma auto-afirmação de seu mundo e isto, os monarquistas pouco compreendiam e os republicanos, bulhufas. Não era para existir Congadas, Bembé do Mercado e nem Reisados.
A república queria mesmo era ungir um mundo de iguais sem rostos da Republica que anunciava uma agenda emancipatória. No final do império existia uma Guarda Negra, formada por escravos libertos que entendia a importância de um terceiro reinado para a monarquia.Silva jardim, um famoso republicano que fora duramente combatido publicamente por dezenas de membros da Guarda Negra. Um prenúncio de uma republica eurocêntrica que tinha medo dos pretos que gostava da princesa e que tinha desconfiança dos brancos ricos materialistas. Hoje sentimos as faltas históricas de uma decadente Monarquia e de uma República não realizada e que nem por isso deve ser maniqueistamente tratada.
A Campanha Reaja continua confrontando modelos de Estado que não realiza a liberdade, a igualdade, nem a fraternidade para todos.Também está confrontando as alternativas dos brancos ricos cristãos da nova esquerda que também não realizou o socialismo humanitário.Precisamos compreender que tivemos que superar o ideário monarquista que não realizou a igualdade material que nos livraria do jugo histórico de uma saga escravocrata. Mas é bem verdade que os senhores do café e do leite eram republicanos e não gostavam de pretos.
A Campanha Reaja sobrevive no limbo dos modelos de Estado e regimes de governo que não realiza a igualdade entre pessoas. A Campanha Reaja continua a expor os pretos contra mundos que se disputam e querem negros como troféus!
A Campanha não era para perdurar. Não era para continuar existindo para alguns republicanos e muito menos para alguns monarquistas da atualidade.

Viva o Reaja Viva!

Sérgio São Bernardo
SERGIO SAO BERNARDO.BLOGSPOT.COM
WWW.PEDRADERAIO.ORG.BR

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Reaja Continua Lutando Contra o Racismo e Pela Vida

Os Assassinos Seguem Impunes com seus Capachos Amaciando seu Tombo Certo

Nos anos 70, sob o rigor fascista de uma ditadura, instituímos um método de luta contra o racismo no país que demoliu definitivamente um modo de nos olhar em viés. Afirmamos nossa negrura, nossa pretidão, nossas instituições políticas religiosas , erigimos nossos heróis, impomos nossa história e definitivamente chamamos o país a revisar sua noção de identidade. Não pedimos nada, exigimos, com o pescoço em riste o que era nosso por direito histórico. Levantamos!

“Chega de tudo pela Metade basta de tudo pelo meio
Agora ou vai ou racha , queremos tudo e inteiro”(Abdias do Nascimento)

A Democracia Racial como exemplo de convivência pacífica entre os vários povos que construíram o país desabou sob os pés da nação. Nós fomos a dinamite desse evento definitivo para nossa democracia falha, incompleta e moribunda:

“ Somos os Coveiros da Democracia Racial” (Hamilton Borges Walê)

Dissemos que queríamos um novo modelo de nação, um outro país, sem subordinação de um seguimento racial sobre outro, para fora do capitalismo, com respeito as civilizações que aqui chegaram. Apontamos uma nova ética, uma estética política desfilando de cabelo duro, contra as instituições hegemônicas que nos ignoram como sujeitos políticos.Vencemos os anos 70.

“Reaja a Violência Racial” (Palavra de ordem do Movimento Negro Unificado)

A escola em que fui formado acredita que o combate ao racismo e ao neo-colonialismo é a única opção que temos contra o que nos destrói. Fora disso não nos resta nada. O racismo estrutura todas as relações no Estado Brasileiro. Não somos sócios desse pacto branco assinado com nosso sangue nos canaviais e nas lavouras , nas minas de ouro e diamantes , nos pastos de boi , nas grandes roças do latifúndio de café e uva.

Chegamos aqui acorrentados e acorrentadas como prisioneiros de uma guerra que não teve fim e da qual nossas vidas eram o combustível.

O contrato republicano de disputar por dentro das instituições é tão utopia quanto nosso desejo de criar alternativas de poder negro/indígena /feminino. Sonhemos o nosso próprio sonho construído sobre nossos próprios referenciais

A Campanha Reaja ou Será Morta , Reaja ou Será Morto nasceu no dia 12 de Maio de 2005 , ocupando por mais de 08 horas, madrugada a fora, a porta da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. Rompemos o silêncio sobre as mortes de pretos e pretas na Bahia.Politizamos nossas mortes!Internacionalizamos nosso martírio coletivo.Instituímos um método radical de defender a vida. Desafiamos os poderosos do palácio de Ondina em duas gestões semelhantes de segurança pública baseadas em nossa eliminação. Pautamos o debate por todo o Brasil.

Sem concessão , sem prêmios , sem comendas,sem massagens e sendo criminalizados operamos o regaste de luta contra o racismo em oposição a prática encabulada de promover uma igualdade impossível num regime desigual.

Às mães que perderam seus filhos pela lógica racista de segurança nos últimos cinco anos - afirmamos que continuamos atentos e atentas e que nossa voz não se cala diante do terror - contem conosco.

Aos Prisioneiros e prisioneiros, muitos militantes dessa campanha do contra, nosso compromisso de não permitir que suas vidas sejam estudadas como ratos de laboratórios na manipulação pseudo-científica de sua desgraça e/ou nos projetos inócuos que geram lucro e crédito universitário e nada mais. Afirmamos que continuaremos firmes na luta pela abolição das penas, pela demolição das cadeias, pelo enfrentamento a esse modelo de justiça criminal seletivo que lucra com nossa desgraça

Estamos no século XXI sob o rigor fascista de uma ditadura racista que nos elimina em massa, se dizendo democrática de direito, estamos combatendo o genocídio, o racismo e a traição entre alguns dos nossos

Somos isso!

Campanha Reaja ou será Morta , reaja ou será Morto
Simplesmente uma Campanha
Hamilton Borges Walê

quinta-feira, 6 de maio de 2010

DO ALTO DO ESCADÃO LÁ DE CASA EU OBSERVO O MUNDO

Abri a janela. Calor do carai. Já ta anunciada minha praga, hoje tem enterro, se pensar, pela barulheira que fizeram aqui fora ontem, fizeram Indio de bife batido. Só de coturno pisando a cabeça do muleque...vixe
“ai, ai minha mãe” ouvia a voz do menino
“agora tem mãe? Mãe uma porra, ou dá a “boca de fumo” ou "vai pra gaveta”
“Que boca moço, sou estudante”
“Cala boca caralho, cê vai istudá é com o diabo nos quinto dos inferno” o Estado fala forte nessas horas
Eu só ouvia, deitado no meu coxão no chão da sala de meu barraco, mandei a nega ficar na cozinha abaixada , luz apagada, não posso descrever a cara dos policia, mas pela voz os cara saíram de uma filme sinistro desses que passa de madrugada sobre guerra.
Posso descrever índio,ai posso. Muleque alto , 15 anos com cara de pateta mas com uma inteligência incomum nessas bandas, daqueles muleques adianto que cai no encanto dos bandidos.
“Índio pegue uma carteira da Charlton ali em seu Favinha ” fala um malaco veio que eu não sei o nome porque nun sô caguete
“Demoro”
respondia Índio já no caminho da função. Lá ia o muleque correndo com uma nota de 20 pratas na mão, segurando a bermuda folgada com outra para em poucos minutos entregar a mercadoria ao destino e pegar sua gorjeta. Era assim e daí era o dia todo, comprar um frango assado para depois da larica dos parceiro, dar um recado a mãe de um que não volta em casa hoje, buscar a irmã de outro na escola, carregar a compra de uma mãe em apuros e fumar muita maconha de bombeira na lage.
Tinha um romance secreto na quebrada, com o Zizinho, filho de Zé do galo, pegou o muleque vestindo a calcinha da irmã no natal, tirou uma foto do celular e desde então tem extorquido uns carinhos do Zizinho seu antigo colega de primário, Indio nunca saiu do primário, Zizinho sim, talvez foi nos livros que apreendeu a fazer aquilo com a língua em sua orelha...bagulho louco. Quando acabavam no encontro secreto, ele botava uma cara de zangado...tipo sujeito homem, mas adorava aqueles amaços e Zizinho...suspirava dia e noite por seu amante mas carinhoso e apaixonado. Isso quem me disse foi o próprio Zizinho, no enterro, tava de preto e chorava muito. Perdeu seu amor pra sempre e prematuramente.
A policia todo dia entra aqui procurando a boca, dá uns paus nuns muleque, toma cerveja e wuisk em João da Goela , lá pelas tantas vai na boca de fumo da uma tapas numa boa maconha com os traficantes e já era.
Mas nesse dia , não foi assim não, o barato saiu do controle, foram tantas bordoadas no pobre Índio que ele ficou esticado pelo escadão, sem socorro, sagrando pacas e gemendo baixo, agonizando mesmo enquanto os PMs decidiam o que fazer.
“Deixa ai rapa é vagabundo mermo”
“É melhor nós dá socorro, leva no HGE, diz que encontramo ele assim, que foi briga de droga se a imprensa inguli todo mundo ingole”
“Mas tem esses cara do Movimento Negro fazendo zuada por qualquer arranhão que a gente dê em malandro, vão querer investigar e ai suja”
“Esses ai o Governador cuida”
“Ta bom então, vamo fumar um que eu já to é bolado, e sua filha, passou no vestibular?”
E os caras saíram conversando, numa boa enquanto que o corpo de India ficou ali, no frio da noite, a alma evaporando a agonia entrando por nossos barracos ... a vida levada desse jeito.
......................
Acordei cedo apesar da longa noite que tive, peguei meu melhor sapato, a melhor calça e uma camisa preta que a tempos não uso
Fiz o que tinha que fazer em casa e fui na barbearia de Dorinho saber das novidades da morte de Índio.
“ Morreu só de pancada, o sargento era quem mais batia no menino
Mas todo mundo deu sua bordoada”
“Agora pra que ele foi andar com ladrão”
fala seu Atenor com sotaque de gente de ilhéus,
“quem com porcos se mistura , farelo comi”
“Ou comi capim pela raiz “
Fiz minha barba calado e calado fiquei até me aprontar pra ir ao enterro.
Sai na porta, o muleque grita
“Bora seu Alfredo”
O menino veste roupa larga e sandálias dessas de propaganda de televisão
“o enterro é as cinco, nas Quintas dos Lázaros vai ter um ônibus pra levara a gente , quem deu foi um Vereador’.
É ano de eleição, vai ter um monte de sangue suga em cima do corpo do menino, vão roer a carcaça antes dos vermes. Vermes

Hamilton Borges Walê